Teófilo Benedito Otoni nasceu a 27 de novembro de 1807, na Vila do Príncipe, atual cidade do Serro-MG, como primeiro dos onze filhos de Jorge Benedito Otoni e Rosália de Souza Maia Otoni.
A Vila do Príncipe era, naquela época, sede da imensa Comarca do Serro Frio (então a maior comarca entre as cinco do estado). No seu território se desenvolvia principalmente a atividade de garimpo de ouro e de diamantes, que enriquecera a Europa no século XVIII, mas já então em franca decadência. O depotismo da Coroa Portuguesa e a legislação repressora calaram fundo no menino Otoni e forjaram seu caráter com três marcas que o seguiriam vida afora: o terror ao absolutismo, o amor pela democracia e a busca por alternativas econômicas para a sua região e para o seu país.
Aos 14 anos, já declamava poesias nos salões da terra natal, durante as comemorações pela independência do Brasil. Com 19 anos, entrou para a Escola da Marinha no Rio de Janeiro, onde se relacionou com os círculos maçons clandestinos, ligados a Evaristo da Veiga e Rodrigues Torres, fazendo parte do “Clube de Amigos Unidos”, sociedade secreta. Em 1830, percebendo-se cerceado na Marinha pelas suas idéias, volta ao Serro onde funda o jornal “Sentinela do Serro”, porta-voz de suas propostas de vanguarda, fechado em 1932 por determinação de Feijó. No Serro, funda também a “Sociedade Promotora do Bem Público”.
Em 1833 lidera o batalhão de voluntários para lutar contra a sedição militar dos Conservadores em Vila Rica: vai às armas pela primeira vez.
Foi vereador, deputado provincial à Assembléia Legislativa em 1835/1838 e 1839/1842. Em 1838, foi eleito para a Assembléia Geral (Câmara dos Deputados) no Rio de Janeiro. Em 1845, é eleito novamente deputado geral, sendo reeleito em 1848. Em 1861, volta ao parlamento federal e é novamente reeleito em 1864.
Após ser preterido por cinco vezes, é indicado senador por Pedro II em 1864. Neste cargo, morre aos 61 anos, em 17 de outubro de 1869. Combativo, inquieto, culto, com o dom da palavra, Teófilo Otoni entra em colisão com os conservadores e o poder quando da “Lei de Interpretação do Ato Adicional”, retrocesso ante as conquistas liberais em 1834. Em 1840, os liberais vencem as eleições defendendo a antecipação da maioridade de Pedro II e combatendo o retrocesso.
No ano seguinte as eleições são anuladas e os liberais resolvem ir às armas. Em agosto de 1842, Teófilo Otoni é derrotado em Santa Luzia pelo Duque de Caxias, preso levado à Vila Rica. Faz sua própria defesa; edita com pseudônimo, desde a prisão, “O Itacolomi” onde critica o governo imperial e defende os revolucionários “luzias”. Em 1843 é julgado e absolvido em Mariana.
Desencantado com a cooptação dos liberais, volta-se para o empreendedorismo. Abre uma casa comercial na rua Direita no Rio, em 1844. Em 1847, funda a “Cia. de Comércio e Navegação do Rio Mucuri”. Em 1853, inicia a construção de Filadélfia (“cidade do Amor Fraterno”). A escolha do nome denota a influência de Thomas Jefferson. Ao invés do extermínio, alcança acordo com os indígenas. Traz 100 chineses para a construção da estrada “Santa Clara-Filadélfia”.
Em 1856, chegam os alemães e também imigrantes holandeses, belgas, suíços, portugueses, espanhóis. Em 1857, Filadélfia vira distrito e é inaugurada a 1ª estrada de rodagem do Brasil, com 180 quilômetros e mais de 50 pontes. Em Filadélfia (posteriormente será Teófilo Otoni) abre escola de esperanto, um jornal, igreja católica e luterana, estimula a agricultura e a pecuária. Contra sua vontade, a Cia. do Mucuri é encampada em 1860.
Fisicamente fragilizado pelas repetidas crises de impaludismo, contraídas nas matas do Mucuri, Teófilo Otoni retoma suas atividades políticas na capital do país, retomando a liderança dos liberais, e luta pelo federalismo, pela República e pelo desenvolvimento. Ídolo popular, lidera as manifestações contra os ingleses na Questão Christie e ante a ameaça de bombardeio do Rio por canhoneiras inglesas.
De 1853 a 1857 foi diretor do Banco do Brasil, refundado por Mauá após a proibição do tráfico de escravos, para canalizar os capitais daí para outros empreendimentos. Seus escritos e discursos, as dezenas de publicações sobre sua história, idéias e feitos mostram o republicano, um homem futurista, defensor da indústria, da agricultura diversificada, da construção de estradas, ferrovias, da navegação fluvial, de uma cultura nacional.
Na célebre publicação sobre a estátua eqüestre de Pedro I (onde hoje é a praça Tiradentes, no Rio) ele reivindica para os movimentos libertários, como os “inconfidentes” e os “pernambucanos”, os méritos da independência. No entanto, esta pessoa extraordinária, exemplo de altruísmo, coragem, obstinação, superação, permanece fora da maioria dos livros oficiais do país.
Mas a sua importância é muito maior do que a que a história oficial lhe atribui. Otoni sempre teve um reconhecimento e uma popularidade especiais junto a diversos setores do país, o que justifica a utilização desta oportunidade para celebrarmos sua memória e reapresentá-lo às novas gerações de mineiros e brasileiros.
Cronologia Histórica de Teófilo Benedito Otoni
1807 – Nasce Teófilo, na antiga Vila do Príncipe, hoje cidade do Serro, como primeiro dos onze filhos de Jorge Benedito Otoni e Rosália de Souza Maia.
1822 – Com quatorze anos, declama poesias nos salões da terra natal, durante as comemorações pela independência do Brasil.
1826 – Junto com o irmão Honório, parte para o Rio de Janeiro, para fazer carreira na Academia da Marinha de Guerra, passando a residir com o tio e poeta José Elói Otoni.
1830 – Após sofrer perseguições na Marinha, retorna ao Serro com uma tipografia e lança o jornal “Sentinela do Serro”.
1831 – Mobiliza os serranos e as serranas contra as ameaças de retrocesso na nascente democracia brasileira, participando ativamente do processo que leva à abdicação de Pedro I, em 7 de abril.
1833 – Lidera um batalhão de voluntários para lutar contra a sedição militar dos Conservadores em Vila Rica. Em Caeté, os “Caramurus” rebelados entregam suas espadas nas mãos dos serranos.
1835 – É eleito Deputado à primeira Assembléia Legislativa da província de Minas, onde já defende a abolição da escravatura.
1838 – É eleito Deputado Geral e abre nova frente de luta contra os Conservadores.
1842 – O Imperador dissolve a Câmara e estoura a “Revolução Liberal” em São Paulo e Minas Gerais. Teófilo retorna a Minas e assume o comando da Revolução em Santa Luzia, onde combate contra as tropas de Caxias.
1843 – Após a prisão em Ouro Preto, é julgado e absolvido em Mariana. Retorna ao Rio, onde funda a firma atacadista de tecidos “Ottoni e Cia.”, com o irmão Honório, à Rua Direita, n.º 77.
1845 – É novamente eleito Deputado Geral, assumindo a Vice-Presidência da Câmara dos Deputados.
1847 – Tem início o projeto da Companhia de Navegação e Comércio do Mucuri, com um programa de desenvolvimento e de ligação do norte-nordeste de Minas ao mar.
1851 – Participa da recriação do Banco do Brasil, juntamente com Mauá, e preside a Comissão da Praça do Comércio, precursora da Associação Comercial do Rio de Janeiro.
1853 – Inaugura Filadélfia, o centro das Colônias do Mucuri (futura cidade de Teófilo Otoni). Assume como Diretor-Secretário do Banco do Brasil.
1856 – Chegam os primeiros colonos europeus ao Mucuri (suíços e alemães).
1857 – É inaugurada a primeira estrada de rodagem do Brasil, ligando Santa Clara (Nanuque) a Filadélfia, com 170 Km. Organiza e preside a Cia. de Seguros Marítimos e Terrestres.
1860 – Escreve a famosa “Circular aos Eleitores Mineiros” e retorna à política, como Deputado Geral, contribuindo para reorganizar o combalido Partido Liberal, durante uma década chamada de “otoniana”.
1861 – Assume um importante papel, durante a “Questão Christie”.
1863 – É eleito para o Senado.
1869 – Morre no Rio de Janeiro, aos 61 anos, vítima de uma antiga maleita, contraída no Mucuri.
1870 – É lançado o Manifesto de fundação do Partido Republicano, com a presença de vários dos seus correligionários e discípulos políticos.
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terça-feira
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